Os professores estão revoltados. E vão voltar a
manifestar-se. E porquê? Por que dizem estar cansados e saturados de preencher as grelhas da avaliação. Ou seja, esta manifestação não é mais do que uma revolta pela quantidade de trabalho que têm. Pobres coitados. Anos e anos a saírem às 13 horas, se não tinha aulas de tarde. A não comparecerem mais do que uns minutos se o horário a isso não obrigasse. Trabalhavam em casa, diz-se. Enquanto que outros que eram exemplos saíam de lá muito para além das suas obrigações regulamentares, em nome de uma escola melhor, sem que isso os beneficiasse na sua carreira. Eu voto mérito.
O problema é que as "reformas" que este Governo apresentou não promovem, na prática, o mérito. Se quiseres uma prova disto vai falar com quem vive isto todos os dias, procura um antigo professor teu que consideres uma referência e pergunta-lhe o que acha do que se está a passar. Certamente ficarás bastante surpreso...
Paulo:
Terás certamente razão ao dizer o que dizes, mas não no seu todo! Há bons e maus professores como há bons e maus médicos,, polícias,etc.
O que eu não posso é aceitar que aches que preencher grelhas seja o trabalho de um professor! A vida de um professor não é fazer "palavras cruzadas" ou "sudokus"!Um professor é pago para ensinar, para formar, da mesma forma que um polícia é pago para nos dar segurança e não estar atrás de uma secretária a preencher papeladas!
Já que falamos nisso, deixa-me contar que uma destas noites tive a necessidade de acompanhar uma pessoa à esquadra para fazer uma queixa de furto e vi 3 ou 4 agentes à secretária! O lugar deles não é lá. É na rua a zelar pela segurança das pessoas...
Porque é que não se contratam pessoas desempregadas para estarem a fazer o trabalho de secretaria da Polícia?
Se calhar, assim também se encurtava a taxa de desemprego, ou não?
Miguel Silva:
Também não concordo com as grelhas. Preferia os cheque-ensino.
«Se calhar, assim também se encurtava a taxa de desemprego, ou não?»
Este pensamento é muito perverso. Foi isto que nos deu um excesso de funcionários públicos, em primeiro lugar.
Preencher formulários que ajudem na avaliação do trabalho deles, pode ser que até seja parte da função deles.
Da mesma forma que se não houver polícias nas secretárias, com certeza que tudo ficará mais desorganizado.
Tiago, já consegui ouvir professores que não estão de todo contra as tais "reformas". Se calhar foi vindo daqueles que mais se esforçam, mais davam o litro já até aqui, a fazer trabalho fora de horas para as suas instituições. Estes já estavam habituados ao trabalho...
Paulo, sinceramente, não conheço nenhum professor que seja contra a avaliação de docentes. Vários já defendiam isso antes de o Governo o fazer. Mas a forma como essa avaliação está a ser feita toca o absurdo. Há professores sem qualquer qualificação para avaliar os seus pares e a fazerem-no. Há professores a avaliar docentes de áreas totalmente diferentes.
Estas reformas só são dignas no discurso do Governo.
Não conheço nenhum professor contente com as reformas, e conheço muitos professores...
Eu conheço professores que, sendo professores com classe e empenho, não se importam de ser iguais aos restantes profissionais: empenhados e trabalhando em prol da classe. São professores.
e do seu trabalho
Casimiro, não é de todo isso que está em causa. Nem estas "reformas" os iguala aos outros profissionais - o que quer que isso queira dizer -, nem torna o exercício da sua profissão mais digna. Os professores estão hoje atolados em burocracia, passando, como disse o Miguel, mais tempo a preencher grelhas que a ensinar.
Nunca os professores estiveram tão unidos como hoje contra as "reformas" na Educação, e isso quer dizer alguma coisa...
Ainda bem que assim é. Nem sempre assim foi.
Passando mais tempo a preencher formulários do que a ensinar? Eles passam o quê? 8 horas por dia a preencher essas grelhas? Eu acho é que havia muito boa gente, principalmente aqueles que já passam por aquela fase de redução de horários que estavam habituados a ter dias a trabalhar duas horas, e outros a nem trabalhar...
E agora provocando: alguma vez, também, os professores foram tão manipulados a fazer uma luta da forma que o faz?
A forma como rematas o problema dos professores com "Por que dizem estar cansados e saturados de preencher as grelhas da avaliação." deixa logo claro que não estás nem sequer perto da realidade que é o ensino actualmente. Falas de cor quando argumentas com o "trabalho extra". Com certeza estás a equiparar o trabalho extra nas escolas àquele que é realizado em empresas. News Flash: it's different! Porquê?
1 - Não há pagamento de horas extra.
2 - Falar para um computador é diferente de falar para um ser humano com as hormonas aos saltos. Um computador só responde àquilo que é questionado. Um aluno responde a tudo, nem que seja a perguntas retóricas. E todos sabemos que não é mansinho nas respostas.
Continuas a argumentação com o "Trabalhavam em casa, diz-se.". Sim é verdade. Mas perguntas tu "E porque é que não trabalham na escola, para assim todos poderem ver a sua produtividade aplicada em nome de uma escola melhor", parafraseando-te? Fácil: a escola não lhes proporciona as condições necessárias. E tu respondes "Então que se proporcionem!" Resposta: As politicas do ME não o permitem. Preso por ter cão e preso por não ter.
E isto é só para veres que aquilo que a comunicação social passa cá para fora não deve ser tomado como verdade absoluta, devendo optar-se por uma postura crítica e acutilante relativamente aos seus devaneios. Assim como foste capaz de discernir sobre as discrepâncias entre a realidade das praxes tal como as conheces e a realidade transmitida pelos media, também terás de ser capaz de o fazer para outros temas, nomeadamente este. Estabelecendo um paralelismo: para poderes construir a tua posição crítica relativamente às praxes tiveste de ser praxado e de praxar. Foste bem praxado e soubeste praxar em igual medida e o que sucede? Defendes a praxe com olhos e dentes. Terias tu a mesma posição se tivesses tido uma má praxe, existindo mesmo a hipótese de te teres declarado anti-praxe? Eu não preciso que respondas, pois sem bem a resposta. Agora, voltando aos professores. Já foste aluno e, como tal, tiveste bons e maus professores. O que dizes acerca dos bons? Que gostaste muito e que te serviram de modelo. E dos maus? Era "acabar com eles!". Exactamente o mesmo que se passa com as praxes. E então o que sugeres? Que os bons sejam valorizados e os maus castigados. Concordo. Mas então o que está a acontecer? Alguns bons foram valorizados, alguns maus foram castigados. Até aqui tudo bem. Mas espera lá, eu disse "alguns"? E os outros? Bom, alguns dos maus, neste momento, encontram-se em patamares da carreira mais seguros do que alguns dos bons, tendo ultrapassado alguns dos bons e é este um dos problemas contestados. Desde as subidas de escalões dos maus com ultrapassagens sobre os bons, devido a penalizações por doença ou incapacidade, desde os maus a tomarem o cargo de avaliadores dos bons, desde os menos experientes a avaliarem os mais experientes, desde os bons e experientes a serem atirados para os quadros de mobilidade sendo obrigados a concorrer, com idades entre os 50 e 65 anos e uma vida feita num lugar, para escolas no outro extremo do país, etc, etc. E não é só isto. As medidas impostas pelo ME acerca da avaliação estão a sobrecarregar os professores com trabalho extra-curricular, que está a penalizar não só os próprios professores, devido a muitas das injustiças que já referi e outras tantas que não há tempo para referir, como também os alunos que dispõe agora de um conjunto de docentes com menos tempo para os ajudar e mais desgastados para os "aturar", em toda a asserção da palavra que com certeza conheces e consideras como verdadeira. Como consequência disto, temos o aumento do nº de aposentações dos professores bem como o aumento de doenças do foro psicológico desta mesma camada da sociedade registado no último ano. Para finalizar, só queria acrescentar que este governo tem vindo a descredibilizar muitas das profissões que são pilares fundamentais da sociedade, como os professores, polícias, etc, e que os resultados estão à vista. Gerou-se o caos, o pânico e a confusão. Incidentes como o "Cowboys from Quinta da Fonte", Carjacking ou o famoso "Dá-me o telemóvel já!", só se têm tornado cada vez mais numerosos devido às posições do governo. Se já existiam? Sim, já e estavam escondidos ou ficavam "intra-muros". Agora têm vindo a ser mais divulgados graças à estupidez de muitos e à astúcia de outros. Se existiam professores maus? Sim, sempre os houveram e hão-de continuar a existir, assim como sempre existiram os bons. E agora que tipo de professores é que temos? Agora, só temos "os maus".
Anónimo:
"Com certeza estás a equiparar o trabalho extra nas escolas àquele que é realizado em empresas. News Flash: it's different! Porquê?
1 - Não há pagamento de horas extra."
Acho que não é só o Paulo que está longe da realidade... Há poucas empresas que pagam horas extra.
Quanto ao resto, digo apenas: cheque-ensino.
Caro anónimo,
"A forma como rematas o problema dos professores com "Por que dizem estar cansados e saturados de preencher as grelhas da avaliação." deixa logo claro que não estás nem sequer perto da realidade que é o ensino actualmente. "
é curioso que a minha citação tenha sido tirada do comunicado que o Público noticiava quando falava de uma nova greve.
Quanto aos paralelismos, acaba por correr que o faça da maneira que o fez. Sim, acabava com as más praxes também. Da mesma forma que gostava que os maus professores acabasse também. E se alguns já estão a ser valorizados e outros a ser castigados, então parte do trabalho está a correr bem. Foi um inicio...
E já agora adoro a argumentação dos professores, feita por si, que me dizem que agora não têm sequer paciência para os seus alunos, porque passam muito tempo em actividades "extra-curriculares". Gostava de ver um vendedor, funcionário de uma empresa, que tivesse que preencher um relatório do dia anterior, preparar o desse dia, e depois dissesse ao patrão que não estava com paciência para ouvir os clientes. Quanto mais quando se tratam de crianças.
Das horas-extra acho que o hugo já respondeu convenientemente.