Think Pong: A esquerda Alegre

O Think Pong desta semana é o primeiro em sistema “discos-pedidos”. Porque se trata de um tema actual e porque foi pedido por um dos habituais leitores da crónica, o mais participativo pelo menos, decidimos escolhe-lo.
Manuel Alegre, o “politico poeta”, é neste momento uma das figuras mais incontornáveis do panorama politico nacional. E tudo isto porque o Partido Socialista cometeu um erro estratégico: retirou o apoio a Alegre quando parecia estar tudo encaminhado para este ser o candidato à presidência da República. Só que na mesma altura apareceu o mais histórico líder do partido, e não restava outra solução.
Amuado como uma criança, o senhor decidiu colocar-se na posição que em Portugal funciona sempre: o coitado, o traído, o dono da razão por muito que não se conheça os bastidores. E na altura para além do efeito de contágio que uma situação destas traz sempre, Alegre criou também o mito à sua volta da representação dos não representados socialistas com S grande. Resultado: Arrastou um milhão de pessoas atrás de si até às urnas e derrotou o seu próprio partido. Aquilo que ele não percebeu foi que a sua birra fez ascender a Presidente da República um senhor que havia sido adversário de outras lutas, e um dos piores primeiros ministros que este pais já viu. Pior! Agora tem já mais idade, está já mais doente, e já não faz a mínima ideia do que faz nem diz. Obrigado Manuel Alegre e casmurrice da direcção Socialista.
Só que do alto da importância que adquiriu com esta candidatura Manuel Alegre começou a agir para alegrar a esquerda portuguesa. Por entre três poemas, gravou uma cassete, que posteriormente engoliu e passou a dizer: Não gosto e não quero! Sem apresentar soluções ou formas diferentes de fazer o que quer que seja. Mas como não é estúpido, apercebeu-se de que estava a ser alvo desta critica. Então convidou um conjunto de amigos, que alastrou a um encontro de críticos do governo, da ala esquerda. E assim haverá pelo menos soluções para apresentar da próxima vez que disser que não gosta de alguma coisa.
Do resultado de dois encontros Alegre já fala em ir a eleições com as ideias que de lá saírem. Se isso significa a criação de um novo partido ninguém sabe. A minha opinião é que ele acabará por substituir o repetitivo Francisco Louçã e será o candidato do Bloco às Legislativas. Resultado: O partido com 10 anos que tem vindo a crescer ao longo dessa década, sofrerá assim um “boost” eleitoral, será a terceira força, logo a seguir ao decadente PSD, e coligar-se-á com José Sócrates para formar um governo de maioria. Manuel Alegre cala-se de vez, o BE cresce, e o PS ajeita-se a trabalhar mais à esquerda. Será que no meio de tanta asneira o pais ainda vai ganhar com isto e se vai tornar num pais de esquerda?

O Think Pong acaba por este ano, havendo ainda lugar a uma análise alargada do ano e mais novidades para 2009.

14 opinioes:

  • Na minha opinião, a atitude de Manuel Alegre foi louvável, apesar de não tido a minha intenção de voto (NOTA: intenção porque ainda não podia votar). Como Presidente da República, iria ser uma força de bloqueio demasiado inconveniente para o Governo, a meu ver.

    Além disto, não me parece que Alegre tenha feito Cavaco Silva ganhar as eleições. Este ganhou com uma maioria absoluta que sairia inabalada por Soares, caso concorresse sozinho contra Cavaco. Não te esqueças que o candidato do PS ficou em terceiro, com uma enorme diferença para o segundo lugar, demonstrando que a democracia portuguesa está, apesar de tudo, suficientemente vigorosa para não destacar um indivíduo notoriamente senil.

    "O Think Pong desta semana é o primeiro em sistema “discos-pedidos”."

    Sois uns amores xD

  • Paulo,

    não posso estar em mais completo desacordo contigo do que neste tema. Primeiro porque não entendo que Alegre seja uma figura incontornável da política nacional por causa do erro do PS em não o ter apoiado nas presidenciais.

    Alegre era já, e seria independentemente dessa situação, um dos principais obreiros da democracia nacional e uma das figuras carismaticas da cidadania portuguesa.

    A forma como contas a "história" das Presidenciais enferma de um enviesamento. Soares não "apareceu" para ser candidato. Foi procurado pelo PS. Portanto, quem viabilizou o triunfo de Cavaco foi o partido.

    O que restava a Alegre nessa altura? Sair da luta cabisbaixo ou provar o erro do PS? Optou pela segunda hipótese e, quanto a mim, fê-lo bem. Como mostram os resultados dessas eleições.

    Alegre, portanto, não amuou. Mostrou maturidade democrática que falta a este país. As presidenciais não são eleições de partidos, são projectos de cidadania. E Alegre ganhou essa batalha, por muito que tenha perdido as eleições.

    Por muito que não o vejas, Alegre representa o Socialismo em Portugal. Certamente melhor do que a actual liderança do PS. E por muitos ziguezagues e recuos que minam a sua credibilidade, como disse no meu texto, ela é visto pelo "povo de esquerda" como a reserva que resta a este campo ideológico. (Só é pena que seja ele, com 70 anos, a figura, e não alguém mais jovem, capaz de criar um movimento de verdadeira esperança).

    É trágico que, tal como fizeram outras pessoas, uses a posição dele enquanto poeta como forma de o menorizar politicamente. Meu caro, é exactamente o contrário. O facto de ser um homem culto e absolutamente incontornável na história democrática do país dá-lhe um peso simbólico que o PS parece esquecer. Se o país tivesse mais Alegres (poetas, escritores, homens das artes, gente culta) na política, certamente que não sentiriamos a mesma desconfinaça na classe política.

    Para terminar outra discordância: Não creio que Alegre vá a votos. Muito menos num cenário de coligação com o Bloco ou como candidato desse partido. Apenas o futuro o dirá e não isso que o passado mostrou. Muito menos acredito num cenário de coligação pós-eleitoral com o BE. Como o exemplo da Câmara de Lisboa mostrou, a coligação quebrará facilmente. Seja de que lado for.

  • Mais uma coisa: como disse o Hugo, Alegre na presidência seria uma força de bloqueio a Sócrates. Ainda está por explicar se candidatar Soares não foi bem medido, para dar o triunfo a Cavaco, alguém com quem o actual governo convive mais pacificamente do ponto de vista ideológico e de acção política.

  • Hugo,
    Ia ser uma força de bloqueio inconveniente ao Governo e ao pais. Por aquilo que foi mostrando nos últimos tempos...
    A candidatura de Manuel Alegre não só dividiu votos como desacreditou a de Mário Soares. Muitos votos fugiram para Cavaco Silva por causa desta disputa.

    Samuel,
    Manuel Alegre era uma voz a que ninguém ligava muito há já mais de 10 anos.
    Outra coisa: quando estás num partido e acreditas na democracia partidária é suposto saberes respeitar as democracias internas. Foi maturidade democrática ir a votos contra o próprio partido? Não tentemos mascarar a eleição do PR com falsos projectos individuais.

    Terminaria dando razão ao Nuno Coelho que comenta no teu blogue: Se Manuel Alegre representa assim tão bem o socialismo porque anda a reunir-se com outras ideologias, algumas delas até não democráticas? é que há apoiantes dos regimes de Cuba e Coreia do Norte que foram convidados mas não quiseram aparecer...

  • Acho que este socialismo alegre é um pouco triste!

    Fica o trocadilho:-)

    Abraço cambada

  • "Se Manuel Alegre representa assim tão bem o socialismo porque anda a reunir-se com outras ideologias, algumas delas até não democráticas?"

    O Mário Soares convidou o Hugo Chávez para um programa seu, na televisão pública. Não foi preciso Alegre avançar para ser lançado o descrédito: o Soares desacredita-se sempre que abre a boca. É absolutamente irrealista achar que ele, em qualquer circunstância, podia ganhar a Cavaco Silva.

  • Qual é a diferença entre um programa de televisão em que Soares é o apresentador ou um encontro político de alternativa ao programa de governo? Toda!

  • Mas negociar com governos como os da Venezuela ou da Libia, ou importar modelos de educação desses países já mostra que, quanto a acordos com anti-democratas, o PS não pode apontar o dedo a Alegre.

    Chama-se pragmatismo. E em política é uma virtude de dificil equilibrio.

  • Estás a falar de negócios ou de ideologias diferentes?

  • Estou a tentar mostrar como é frágil, enquanto argumento, evocares a hipotética ligação de Alegre e do movimento das Esquerdas ao PCP.

  • Mas o PCP foi convidado para pelo menos o primeiro encontro. Só não quis foi juntar-se ao movimento.

  • E então?

  • E então sempre há ligação. Mais forte do que uma permuta de "Magalhães". Trata-se de um convite baseado em supostas matrizes ideológicas idênticas. Um homem de firmes convicções que mistura esquerdas...

    Mas acho que estamos a esvaziar a discussão por aqui. Seria interessante tentarmos adivinhar o que o futuro reserva em termos políticos. Por falar nisso, e de encontro à minha ideia de viragem à esquerda do país, e de subida do BE vejam as últimas sondagens.

  • Independentemente do que foi dito, Soares tinha 0% de hipóteses de ganhar. Com ou sem Alegre.