Contamos, por estes dias, mais de uma semana desde o último acto eleitoral em Portugal. E aguardamos pela marcação de outros dois até ao final do ano.
E está na altura de repensarmos muito mais do que resultados de A ou B. Porque esses já estão dissecados até ao último pormenor.
Muito mais importante do que arranjar vitórias morais, derrotas e cartões de todas as cores, devemos tentar arranjar explicações, culpados e soluções para a grande derrotada: a democracia que tanto trabalho deu a conquistar. Mais uma vez os Portugueses não se mobilizaram. Foram à praia, juntaram-se em lamentáveis plataformas de malta organizada que não vota por convicção, foram até ao café ou limitaram-se ao conforto caseiro. Tudo, menos votar. E nisto sim, temos que reflectir.
A classe política está descredibilizada, as pessoas têm mais com que se preocupar, seja qual for a desculpa, a verdade é que é uma responsabilidade de todos mobilizarmos o vizinho e o familiar e convence-lo de que nem que seja para votar em branco ou nulo, deve deslocar-se às mesas de voto da sua freguesia. Porque aí vamos separar o trigo do joio. A abstenção de protesto, do comodista de sofá. Porque se é verdade que nestas eleições houve um aumento, explicável de diferentes formas, na abstenção, existe no eleitorado português um grupo enorme de pessoas, que ultrapassa os 50%, que não vota, nunca! E nem põe a hipótese de o fazer.
Tudo começa bem cedo na mentalidade incutida. Um jovem interessado por política no passado era um sonhador, um revolucionário, um intelectual e uma pessoa admirável. Hoje é menorizado, ao ponto de ter vergonha de emitir opiniões sobre os assuntos, pelo menos usando um vocabulário que vá para além do básico e do insulto.
E é daqui que tiro uma parte das explicações, culpados e soluções que proponho a todos que encontrem: a educação e formação defeituosa, a falta de oportunidades para experimentar e observar política, o afastamento de imensos quilómetros e vontades entre o povo e os seus decisores, a falta de qualidade e escândalos dos políticos, as lógicas subvertidas de funcionamento das estruturas mais básicas dos partidos e juventudes partidárias, a falta de voz e a descrença provocada por ver falhar todos os que tentam tocar em cada um dos pontos que falei anteriormente.
Cabe-nos a todos tentar mudar. Mas cabe principalmente a quem está por dentro, aproximar-se, aproximar, comunicar cara-a-cara sem intermediários, convencer e debater desde a Assembleia da República ao café, desde o Primeiro-Ministro ao merceeiro, esquecer a vergonha ou o estatuto e criarmos o hábito da discussão e da mobilização do povo em torno das causas. Combater os problemas reais junto do povo real e dos seus mundos reais. Sem manifestações forçadas, sem desvios por Lisboa de quem vai para Fátima e sem camionetas em excursão. Discutamos essencialmente!
Texto Publicado na última edição do Povo de Guimarães
na coluna "Abertamente Falando"